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 psi1.gif (3050 bytes) globe4.gif (9321 bytes)Nline.gif (2767 bytes)barrabr.gif (6829 bytes) Psychiatry On-line Brazil (3) 12 1998 

  Tratamento da Depressão no Idoso

Márcia A. Menon**, Andrea Freirias, Marsal Sanches*

**Médica Psiquiatra, Coordenadora do Ambulatório de Neuropsicogeriatria da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo  UNIFESP/EPM.
*Médicos residentes de 3.° ano em Psiquiatria, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo  UNIFESP/EPM.

 

ball12.gif (924 bytes)  Aspectos Básicos de Neurotransmissão no SNC
 

Neurotransmissores, por definição, correspondem a substâncias contidas em neurônios e por ele secretadas para transmitir informações ao neurônio pós-sináptico, num processo que converte a mensagem química novamente em um impulso elétrico.

Após sua síntese, os neurotransmissores são armazenados em vesículas no interior do terminal nervoso pré-sináptico. A chegada, neste terminal, de um impulso nervoso determina a liberação do neurotransmissor na fenda sináptica. Após isto, o mesmo vai se ligar a receptores, proteínas específicas existentes na membrana pós-sináptica. Esta ligação irá deflagrar uma seqüência de eventos, mediados por várias substâncias (AMPc, cálcio, dentre outras), culminando com a transmissão do impulso nervoso ao neurônio seguinte. Postula-se que o prejuízo da transmissão neuronal ligado a um menor aporte de neurotransmissores e/ou a uma menor sensibilidade dos receptores a eles esteja associado à maior ocorrência de distúrbios emocionais, cognitivos e de comportamento em idosos. As respostas tipo up regulation (regulação para cima) e down regulation (para baixo) decrescem com a idade e isto pode ser responsável pela resposta diferente dos idosos ao tratamento com antidepressivos.

Embora existam diversos neurotransmissores, abordaremos apenas os principais do ponto de vista neurofisiológico e clínico. São eles a acetilcolina, as denominadas aminas neurotransmissoras e o ácido amino-gama-butírico (GABA).

A acetilcolina existe tanto a nível central como periférico. No sistema nervoso central, as primeiras vias colinérgicas são a integrante do sistema reticular ativador ascendente e a que se estende do prosencéfalo basal ao hipocampo, hipotálamo lateral e neocórtex. Esta última encontra-se bastante afetada nos quadros demenciais tipo Alzheimer.

As aminas neurotransmissoras correspondem, no SNC, a 3 substâncias principais. São elas a dopamina, a noradrenalina e a 5-hidroxitriptamina (serotonina).

 

 

 

 

O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do SNC. Encontra-se distribuído por todo encéfalo, desempenhando atividade inibitória sobre os neurônios serotoninérgicos dos núcleos da rafe, neurônios dopaminérgicos da região nigro-estriatal e em outros sistemas. Os receptores do GABA encontram-se incorporados a um complexo constituído por um sítio auto-inibitório, um canal de cálcio e um sítio onde se acoplam os benzodiazepínicos. Existem dois tipos de receptores, GABA-a e GABA-b. O primeiro está envolvido nas respostas de ansiedade e alimentação, enquanto o GABA-b está relacionado com a modulação cardiovascular, analgesia e depressão. Não foram encontradas alterações relacionadas ao GABA em função da idade nos estudos realizados, tanto post mortem quanto in vivo (utilizando PET scan). Estes achados estão em dissonância com os achados clínicos, dada a maior sensibilidade de idosos aos benzodiazepínicos.

Conforme exposto no próximo item, os antidepressivos têm como mecanismo de ação a interferência na transmissão sináptica, basicamente naquela mediada por neurotransmissores da classe das aminas. Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, por exemplo, promovem o aumento da atividade da serotonina na fenda sináptica. Entretanto, o papel exato de tal alteração ainda permanece não totalmente esclarecido, já que após certo tempo de uso da medicação, observa-se o down regulation (regulação para baixo) dos receptores pós-sinápticos para a serotonina.

 

ball12.gif (924 bytes) Tratamento
 

As aminas secundárias, tais como a nortriptilina e a desipramina, têm menos efeitos anticolinérgicos e cardiovasculares, sendo melhor toleradas do que as aminas terciárias clássicas como a amitriptilina e a imipramina. Observa-se que a nortriptilina apresenta menor incidência de hipotensão ortostática, um dos mais importantes fatores de restrição do uso de tricíclicos nesta população. O tratamento deve ser iniciado com um terço a metade da dose usual para pacientes mais jovens. Se necessário, o aumento das doses deve ser lento e gradual. Uma vez obtida a remissão dos sintomas, inicia-se a fase de manutenção da droga, que geralmente é feita por no mínimo seis meses. Nos casos de resposta parcial, depressão recorrente, episódios graves ou arrastados, pode-se mantê-la por períodos mais longos, ou até indefinidamente. Nos casos de depressão psicótica, o antidepressivo não consegue ser eficaz isoladamente, necessitando da associação com neurolépticos.2,5,6

Os inibidores da monoamino oxidase (IMAO), atuam inibindo a enzima que degrada as aminas neurotransmissoras, e possuem a mesma eficácia dos tricíclicos e outros antidepressivos. Seus efeitos colaterais mais comuns são insônia e hipotensão ortostática. As desvantagens do uso desta classe em pacientes idosos, são: 1. necessidade de dieta sem tiramina (cuja ingestão pode causar intensa crise hipertensiva com risco de vida para o paciente); 2. interação medicamentosa com diversos fármacos, produzindo crises hipertensivas ou de hiperpirexia ( ex.: antidepressivos tricíclicos, simpatomiméticos, ISRS, e narcóticos, como a meperidina).5

Os inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS) como a sertralina, fluoxetina e paroxetina, apresentam poucos efeitos sedativos, cardiovasculares e anticolinérgicos, além de geralmente não causar aumento de peso na maioria dos pacientes. Podem no entanto, ocasionar insônia, agitação e irritação gástrica. Por apresentar meia-vida longa, a fluoxetina pode ser de difícil manejo no paciente idoso. Os ISRS podem interferir no metabolismo de outras drogas por inibir o sistema citocromo P450. Alguns idosos respondem a doses muito baixas de ISRS.5

As novas drogas antidepressivas11, também possuem efeito seletivo sobre os neurotransmissores envolvidos na patogênese da depressão, na tentativa de reduzir os efeitos colaterais apresentados com os antidepressivos clássicos. Embora nem todos estejam disponíveis no Brasil, seria interessante conhecê-los:

 

 

 

 

 

De forma geral, constata-se a tendência de considerar o ECT como segunda escolha, reservando-o para os casos refratários à medicação. Vários são os fatores responsáveis por tal filosofia, a começar pela estigmatização que, durante décadas, cerceou o uso desta ferramenta terapêutica. O advento da psicofarmacologia determinou o fim de uma era em que o ECT constituía a única forma efetiva de tratamento dos distúrbios mentais, e inaugurou outra, onde o procedimento em questão foi caindo em progressivo desuso, passando a esbarrar em questões legais e na opinião pública. Embora mais recentemente tenha ocorrido uma melhor análise e reafirmação do ECT como método terapêutico eficaz, sem dúvida seu emprego é ainda influenciado por preconceitos, tanto por parte do paciente e seus familiares como, muitas vezes da própria equipe médica.2,7

A esta questão soma-se o receio, partilhado durante décadas por muitos psiquiatras, de que o ECT não seria bem tolerado em pessoas idosas, ou seja, que estes indivíduos estariam sujeitos a complicações clínicas em decorrência de seu uso. Vários autores chamaram a atenção para a inveracidade destas suposições, sendo que atualmente, com a prática corrente de realização do tratamento eletroconvulsivo sob anestesia geral, é consenso que o mesmo constitui uma opção segura em idosos, desde que respeitadas as contra-indicações absolutas ( hipertensão intracraniana, aneurisma cerebral ou de aorta) e relativas ( acidente vascular cerebral ou infarto agudo do miocárdio recentes, sangramento gastro-intestinal ativo).8,9

Apesar de alguns estudos terem sugerido que o ECT exibiria um efeito sobre a depressão superior às medicações antidepressivas, considera-se atualmente que as eficácias de ambos se equiparam. Diante desta afirmação e das colocações acima, é possível dizer que, diante de um idoso portador de um quadro depressivo, a escolha entre o tratamento medicamentoso e a eletroconvulsoterapia deve levar em consideração vários aspectos, a saber:

 

 

 

 

Embora a ECT constitua uma medida terapêutica segura e eficaz na população idosa, é interessante frisar que a mesma exibe riscos e efeitos colaterais, tanto no que se refere à anestesia como ao procedimento em si. Dentre eles, um dos mais bem descritos é o déficit cognitivo, em geral reversível mas que pode vir a se somar a algum eventual déficit já presente no indivíduo idoso.8

Diante do exposto, conclui-se que a escolha entre o ECT e os antidepressivos deve ser baseada em diversos fatores, que irão variar de caso para caso. É interessante notar que o ECT não deve permanecer em segundo plano, mas sim corresponder inclusive `a primeira escolha em algumas situações. Convém destacar também, embora nos tenhamos detido aos tratamentos biológicos, a importância das intervenções familiares e, eventualmente, de abordagens psicoterápicas senso lato no tratamento destes pacientes.4

 

ball12.gif (924 bytes) Referências

1. Butler RN, Cohen G, Lewis MI, Simmons-Clemmons WS, Sunderland T. Late-life depression: treatment strategies for primary care. Geriatrics l997; 52(4): 51-64

2. Casey DA. Depression in the elderly. South Med J 1994; 87(5): 559-63

3. Devons CAJ. Suicide in the elderly: How to identify and treat patients at risk.Geriatrics l996; 51(3): 67-72

4. Finkel SI. Efficay and Tolerability of Antidepressant Therapy in the Old-Old. J Clin Psychiatry l996; 57(suppl 5): 23-28

5. Labbate LA, Doyle ME. Recidivism in Major Depressive Disorder. Psychoter Psychosom 1997; 66: 145-49

6. Pearlman C. Electroconvulsive Therapy: Current Concepts. Gen Hosp Psychiatry 1991; 131: 128-37

7. Prudic JP. Resistance to Antidepressant Medications and Short-Term Clinical Response to ECT. Am J. Psychiatry 1996; 153: 985-92

8. Segman RH, Shapira B, Gorfine M, Lerer B. Onset and Time Course of Antidepressant Action:Psychopharmacological Implications of Electroconvulsive Therapy. Psychopharmacology 1995: 119: 440-48

9. Spar JE, La Rue A. Mood Disorders- Treatment. In: Concise Guide to Geriatric Psychiatry. Washington, American Psychiatric Press, 1997; pg 59-95

10. Stahl, SM. Antidepressivos e Estabilizadores do Humor. In: Psicofarmacologia – Bases Neurocientíficas e Aplicações Clínicas. Rio de Janeiro, RJ, Medsi Editora Médica e Científica 1998; 6: 149-188.

11. Stoppi Junior A, Lousã Neto MR. Depressão no idoso. In: Depressão na Terceira Idade. São Paulo, Lemos Editorial, l996;pg 79-100  

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Denise Razzouk e Giovanni Torello

Data da última modificação:23/08/00

http://www.priory.com/psych/depid.htm